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3 de novembro de 2011

A mais nova teologia


Cansada de ouvir tantos absurdos por aí, resolvi criar a minha própria versão do evangelho. A mais nova corrente teológica.
Então escolhi cuidadosamente alguns versículos do novo testamento, textos que podiam ser facilmente interpretados de maneira a justificar minhas ideias divinamente inspiradas. Alguns rituais do velho testamento também foram incorporados, por serem bastante simbólicos, podem ser associados com conceitos bastante atuais. Surpreendentemente, não tive muito trabalho com isso. Não precisei passar horas estudando as origens das escrituras no grego e latim, muito menos abri um livro histórico para pesquisar os contextos da época. Apenas utilizei um pouco de argumentação e interpretação sobre os textos bíblicos. Criei então um evangelho bastante simples, bem fácil de ser memorizado e difundido. Para melhorá-lo ainda mais, acrescentei alguns conceitos de psicanálise e frases de auto-ajuda, de forma que as pessoas pudessem se sentir bem quando ouvissem a minha pregação. Ora, é difícil que alguém dê valor a um discurso que lhe diz coisas desagradáveis, por isso recheei a minha teologia com promessas de bem estar e prosperidade. Houve logo de inicio uma boa aceitação por parte dos meus ouvintes, principalmente nas áreas de populações extremamente carentes. Essas pessoas humildemente aceitavam as novas ideias e gostavam muito de acreditar que todas as suas necessidades poderiam ser supridas de um modo sobrenatural. Pensei então em escrever um livro sobre o assunto. Seria melhor se o tal livro fosse escrito lá nos Estados Unidos, e não fosse assinado por alguém de sobrenome "da Silva". Pareceu-me que as coisas que vem de fora são mais confiáveis, mais "abençoadas", como se quanto mais longe, mais perto do céu. O que começou como algo sem grandes pretensões se tornou grande. E logo eu tive que aprender a lidar com isso. Claro que no meu livro constavam instruções para aqueles que gostariam de incorporar a minha teologia em seus ministérios. Era uma teologia tão boa, que as igrejas em pouco tempo se enchiam de pessoas. Isso sim era benção! Pessoas e mais pessoas! Mas, por um motivo que não entendi, parece que a curva de crescimento começou a se estabilizar. Depois de alguns anos, parece que as pessoas começaram a perder a fé. A igreja que antes era formada por um pequeno povo que amava a Deus, agora abrigava uma grande classe de pessoas imaturas, algumas muito exigentes, outras cheias de razões e outras com suas fortes opiniões. Essas pessoas começaram a ter problemas para simplesmente frequêntarem o mesmo lugar juntas e até mesmo precisavam ser lembradas de qual era o propósito daquelas reuniões. Eu fiquei a pensar e não consegui compreender: Eu tinha a melhor das intenções, onde foi que eu errei?

*** O texto é meramente uma história fictícia criada para ilustrar uma situação generalizada que ocorre na igreja nos dias de hoje. Não faço referencia a nenhuma denominação ou movimento em especial, mas apenas apresento um alerta para que prestemos atenção no que tem sido realmente a nossa motivação.

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