Era uma vez um menininho órfão. Ele não foi um garoto convencional. Nunca reclamou da escola, pois nao teve oportunidade de estudos como muitas outras crianças tiveram. Precisou aprender cedo o quanto vale um pedaço de pão. Mas isto não o impediu de ser genial...
Sempre faminto por livros, o pequeno José era curioso em todas as áreas. Costumava construir suas próprias engenhocas e amava os mistérios do electromagnetismo. Um cientista em potencial.
Quando jovem, trabalhou ajudando um fotografo de sua cidade. Naquela época, as máquinas fotográficas ainda eram cobertas por um pano preto e a luz do flash era produzida por uma reação química com magnésio. Um dia José apertou a mão do fotógrafo com quem trabalhara e disse: "se eu quiser ser alguém na vida, preciso agora seguir o meu caminho."
Ele então partiu e começou o seu próprio negócio como fotógrafo.
José era um rapaz muito atraente, ele tinha expressivos olhos azuis que conquistaram o coração de uma jovem espanhola chamada Clóris. Os dois logo se casaram e o amor os possibilitou vencer muitas lutas.
Foi com muito trabalho, muitas horas trancado em um laboratório sob a luz vermelha revelando as fotos, que José conseguiu sustentar sua esposa e os cinco filhos que tiveram. Alias, ele sempre foi um trabalhador assíduo, dedicado em tudo o que fazia. Isso o possibilitou se tornar um excelente fotógrafo e ensinar esta arte também a seus três filhos homens.
Os anos se passaram, como meses, como horas... Os filhos de José cresceram. Alguns foram para longe, outros continuaram por perto. Também se casaram. Também tiveram filhos. Mas continuaram fotografando... A grande família se reunia todos os natais. Seu Zé, agora vovô de muitos netos ( e eu sou uma dos 10), colocava uma longa barba branca, uma roupa vermelha e saía pelas ruas a distribuir doces junto com as crianças. Tudo era uma grande festa. Os filhos seguiam atras tirando fotos, filmando...(como era de se esperar numa família de fotógrafos)
A meia noite, nós sentávamos todos em roda de um grande pinheiro cujos presentes não cabiam embaixo. Havia também uma grande ceia, fartura e abundância, dádivas de Deus. Sem dúvida, José foi um homem abençoado. Com uma fé firme, ele sempre soube em quem confiava.
Sempre foi um amante da música. Ele se sentava no final das tardes ao som de sua vitrola ou ligando algum dos seus muitos rádios - ele tinha uma curiosa coleção deles. Gostava de sintonizar emissoras de outros países, escutar programas em outros idiomas...
Mas o tempo não para, e continuou a passar correndo... O vô Zico viu a seus netos também crescerem, mas seus muitos anos começaram a lhe ser pesados. Dona Clores sempre lhe atendeu em tudo o que precisava. Ela era, como ele costumava dizer, o anjo que Deus pôs ao seu lado.
Com seus 90 anos de vida passados, histórias não lhe faltavam a contar. Um dia porém, já cansado, ele disse que queria voltar para a sua casa. O Senhor então, lhe atendeu a mais esse pedido e o tomou para si.
Vovô Zico
1921-2012
Sentiremos sempre saudades